NOTÍCIAS
Prêmio Viviane do Amaral: Maria no Distrito vence distâncias para concluir processos de violência doméstica
17 DE JANEIRO DE 2024
A distância não é empecilho para fazer a Justiça chegar a quem precisa dela em Porto Velho, capital brasileira com maior área territorial. A percepção da dificuldade para as pessoas participarem de audiências no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher fez o Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) ir ao encontro de vítimas, acusados e testemunhas no município com 34 mil quilômetros quadrados, área superior à de países como Bélgica e Israel.
Trajetos com quase 400 quilômetros até destinos que não raro só são acessíveis com o uso de barcos fazem parte da vida de moradores de distritos da capital rondoniense. São viagens para atender a citações e intimações judiciais que duram mais de oito horas, obrigam a pernoite longe de casa e impõem gastos com deslocamento, alimentação e estada.
A solução adotada pelo TJRO foi instituir o Projeto Maria no Distrito, que nasceu em 2018 para viabilizar audiências de instrução e julgamento em distritos e municípios distantes da sede da comarca. Essa também passou a ser uma forma de o TJRO fazer chegar palestras e rodas de conversa para conscientização sobre o combate à violência doméstica. O projeto se tornou, ainda, ferramenta para a realização de reuniões que estimulam a criação e o fortalecimento, nas comunidades, da rede de enfrentamento da violência contra a mulher.
Tais resultados culminaram com o reconhecimento do Prêmio CNJ Juíza Viviane Vieira do Amaral em 2023, concedido pelo Conselho Nacional da Justiça (CNJ). Na terceira edição da premiação, entregue em setembro, o Maria no Distrito alcançou distinção na categoria Tribunais.
Ausências
A origem da iniciativa, há cinco anos, considerou as frequentes ausências das partes em audiências das varas de violência doméstica e familiar contra a mulher. A busca de explicações para essas faltas permitiu a descoberta de que o alto custo das viagens para quem leva vida ribeirinha, com o dinheiro sempre contado, as péssimas condições das estradas e dos meios de transporte tinham relação indireta com os prejuízos à instrução e aos desfechos dos processos.
Estava posto o desafio de fazer valer, para a mulher residente em distritos de Porto Velho, no interior de Rondônia, o preceito constitucional do acesso à justiça. Para tanto, foi preciso vencer barreiras geográficas, dificuldades econômicas, tecnológicas e institucionais. Quando parceiros abraçaram a causa, com o apoio da Defensoria Pública (DPE-RO), do Ministério Público (MP-RO) e da Polícia Militar do estado (PM-RO), o alcance do objetivo se tornou mais provável.
“O Maria no Distrito encurta o caminho e leva o Sistema de Justiça até as comunidades distantes, fazendo com que as vítimas de violência sejam atendidas”, explica o responsável pelo projeto, desembargador Álvaro Kalix Ferro. “Isso é relevante porque, além de garantir o acesso à justiça, cria o senso de pertencimento, tanto da comunidade em relação ao Poder Judiciário, quanto da própria Justiça, em relação as pessoas que passam a dispor dos serviços da Justiça.”
Método
Para o projeto dar certo e se transformar em visitas a distritos, audiências, palestras e, finalmente, em processos instruídos e julgados, foi preciso, antes, a adoção de um método de trabalho. Primeiro, identificam-se as causas, em cada localidade, que podem ser objeto do Maria no Distrito, e, conforme o trajeto da equipe itinerante, monta-se uma pauta. Então, as partes e testemunhas recebem intimação, citação ou convite. Então, são definidos os recursos necessários: pessoas, computadores, impressoras e meios de transporte.
Em dezembro de 2023, a programação do Maria no Distrito previa visitas aos municípios de Itapuã do Oeste, onde fica o distrito de Triunfo, e de Candeias do Jamari. Além de audiências e julgamentos, que, como tem sido usual desde 2018, usam a infraestrutura de escolas, foram realizadas reuniões das redes de enfrentamento da violência contra a mulher e palestras com estudantes e servidores desses centros de ensino.
Em 2024, o Tribunal de Justiça de Rondônia quer expandir a iniciativa para mais quatro das 23 comarcas do estado. Com a previsão da conclusão da construção dos Fóruns Digitais, outra iniciativa do TJRO classificada pelo CNJ como boa prática, existe a expectativa de que o projeto comece a utilizar a nova infraestrutura.
Prêmio
O Prêmio CNJ Juíza Viviane Vieira do Amaral é um tributo à magistrada que atuava na 24.ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Em 24 de dezembro de 2020, Viviane foi assassinada pelo ex-marido, crime cometido com o testemunho das filhas do casal. Em 2022, pouco menos de dois anos depois, o engenheiro Paulo José Arronenzi foi julgado e condenado a 45 anos de prisão.
Texto: Luis Cláudio Cicci
Edição: Sarah Barros
Agência CNJ de Notícias
The post Prêmio Viviane do Amaral: Maria no Distrito vence distâncias para concluir processos de violência doméstica appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Anoreg RS
Presença de filho afasta indenização por uso exclusivo de imóvel comum
23 de janeiro de 2024
Presença de filho afasta indenização por uso exclusivo de imóvel comum
Anoreg RS
Artigo – Propriedade intelectual e o divórcio: partilha de bens?
23 de janeiro de 2024
O impacto do divórcio em bens de propriedade intelectual é abordado pela Constituição Federal, que garante ao...
Anoreg RS
Artigo – A notificação por cartório de títulos e documentos como causa interruptiva da prescrição
23 de janeiro de 2024
Artigo - A notificação por cartório de títulos e documentos como causa interruptiva da prescrição
Portal CNJ
CNJ divulga calendário de Sessões do primeiro semestre de 2024
22 de janeiro de 2024
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai realizar oito sessões ordinárias durante o primeiro semestre de 2024. As...
Portal CNJ
Inscrições abertas para o curso de Java Avançado para profissionais do Judiciário
22 de janeiro de 2024
O Programa Justiça 4.0 está com as inscrições abertas para o curso de Java Avançado para profissionais de...